O Vinicius Teles, blogou sobre um assunto não muito interessante, Política, mas não sobre o aspecto de ser uma vergonha nacional a corrupção ou que não se tem mais jeito. O assunto foi abordado sobre o aspecto “o que nós, desenvolvedores, podemos fazer para ajudar a mudar esse cenário!”. O conteúdo está reproduzido abaixo, na íntegra. Recomendo a leitura até o final!

Uma verdade inconveniente: podemos mais do que parece, ainda que continuemos a ser alienados

Este post é sobre política e eu sei que você odeia este assunto. Então, tchau! Sério, vai embora, não precisa ler o resto. Até porque, não há nada que você possa fazer para melhorar este país e erradicar a mazela de políticos corruptos que brotam por todos os cantos, certo? Bem, isso é o que parece. Mas, talvez não seja exatamente verdade. É possível que você possa fazer mais do que imagina, simplesmente programando.

Sabe, você e eu não somos tão diferentes assim. Nós dois gostamos mesmo é de programar, fazer software, viver entre geeks no nosso mundo tecnológico. Portanto, como política é um negócio chato, que não tem nada a ver com o que a gente faz, só poderíamos ajudar em questões políticas se resolvêssemos nos envolver com ela e com um monte de coisas que a gente não gosta. Sei que é tentador pensar isso, mas realmente começo a acreditar que trata-se de uma mentira. Ou seja, acredito que dá para ajudar a melhorar o país, sobretudo a política, sendo o que nós somos, programadores e fazendo o que sabemos: software. Como? Muito simples, vamos substituir os políticos por programas bem escritos e bem testados, feitos com alguma metodologia ágil. 🙂 Brincaderinha, galera. Agora, falando sério, dá para ajudar como programador criando ferramentas que possam tornar o mundo mais transparente.

Sejamos honestos, quem ainda acredita em político neste país? Ninguém. Qual é o melhor candidato para as eleições deste ano? Provavelmente nenhum. É triste. O problema é que alguém vai ser eleito. E vai passar quatro anos sacaneando a gente. Como a gente já não se importa mais, o salafrário não vai ter a menor dificuldade de fazer isso, afinal, não está sob os olhares atentos da população. A menos que…

A menos que não seja mais possível passar incógnito. A menos que a pressão popular se faça sentir de forma tão incômoda e nítida que o sem-vergonha comece a temer de verdade. Mas, é claro que isso é uma utopia, afinal, como conseguiríamos que algo assim acontecesse?

Transparência Brasil

Vamos lá, há algumas horas o Guilherme Chapiewski lança a seguinte pergunta no Twitter: existe algum site que dê para ver uma listagem, currículos e propostas de todos os políticos das eleições 2008? Então, o Celestino responde: Naum sei se é isso que vc quer: http://www.transparencia.org.br/index.html. Talvez vocês conheçam o site TrasparênciaBrasil.

Os criadores do site o definem assim:
Transparência Brasil é uma organização independente e autônoma, fundada em abril de 2000 por um grupo de indivíduos e organizações não-governamentais comprometidos com o combate à corrupção.

Este é um site que procura publicar dados sobre os políticos salafrários, para que as pessoas conheçam as porcarias que eles fizeram e evitem lhes agraciar com mais votos. O pessoal do TransparênciaBrasil faz um trabalho excelente e estão de parabéns por isso! Não faço idéia de quão efetivo este site consegue ser, nem dos resultados que obteve até hoje. Porém, acredito que os resultados poderiam ser turbinados e essa é a parte em que nós, desenvolvedores de software, poderíamos colaborar.

Embora eu goste do trabalho do TransparênciaBrasil e aprecie seus objetivos, acredito que a ferramenta que eles usam, o site, poderia ser mais visitado e mais útil para a população, se pudesse passar por uma reforma geral. Na minha opinião, ele não é nada atrativo. Política já é um assunto chato demais. Tratá-lo com um site esteticamente pobre e funcionalmente sub-utilizado não ajuda em nada. Veja, essa não é uma crítica ao pessoal do TransparênciaBrasil. Eles estão lá tentando ajudar a todos nós voluntariamente e a gente nem dá idéia para eles. A crítica é para nós, desenvolvedores. Por que não fazemos nada para ajudar? Tem gente lá que gosta de política, e tem paciência para levantar informações sobre os políticos safados e publicá-las. Tem gente aqui que odeia política, mas adora fazer site. O que está faltando para um grupo trabalhar com o outro? Provavelmente podemos fazer mais pelo país, juntos, do que separados.

Eu acho muito legal iniciativas de open source, por exemplo, bem como acho bacana e louvável a pessoa investir parte de seu escasso tempo nas mesmas. Porém, acho que às vezes a gente não se dá conta de que open source não tem que significar apenas fazer ferramentas e outras coisas para alimentar nossa própria comunidade e resolver nossos próprios problemas. Open source também pode significar trabalhar voluntariamente, fazendo o que a gente sabe fazer de melhor, ou seja, programar, para resolver problemas socialmente relevantes.

Rede Social

Nós todos adoramos o Github, certo? Pois é, projetos open source nunca mais foram o mesmo depois dele. O site é fantástico. Todos nós provavelmente temos a percepção de que ele turbinou o mundo do software livre. E acho que turbinou mesmo.

O Github ainda foi além, conseguiu criar uma rede social relevante. Desculpem, mas eu não sou muito fã de redes socias. Não tenho paciência nenhuma para Orkuts, Facebooks ou coisas do gênero. Mas, o Github conseguiu criar uma rede social útil e vibrante. Minha pergunta é: já pensou se conseguíssemos criar uma rede social útil e vibrante para apresentar informações claras e atualizadas sobre mulheres e homens públicos?

Não estou sugerindo que eu ou você fiquemos escrevendo sobre políticos. A gente não tem paciência para isso. O que estou sugerindo é que talvez a gente possa implementar essa rede social e qualquer outra ferramenta que seja útil para que as pessoas que se interessam por política possam se expressar facilmente e postar informações úteis sobre nossos dirigentes (quando escrevo dirigente e penso nas pessoas que comandam este país, me sinto como se estivesse diariamente em uma dessas vans que ajudam a trasformar o trânsito em um caos e são dirigidas, freqüentemente, por alopradros inconseqüentes).

Em termos de rede social, o Github é bom porque implementou adequadamente as funcionalidades da rede social, mas também porque tais funcionalidades são esteticamente atrativas. Ter um design elegante é fundamental. Se isso é crítico no Github, imagine o quanto é crítico para um site que trata de chatice, quero dizer, de política!

Então, resumindo, aqui estão as duas primeiras partes da minha idéia: uma rede social focada em trazer informações relevantes sobre os políticos, com uma interface visual bastante atrativa. Isso é um bom começo, mas não basta.

Denúncia anônima

Uma coisa que sempre me pareceu muito importante em termos de segurança pública é o conceito da denúncia anônima. Acredito que ele poderia ser bem utilizado no que se refere à política. Hoje em dia, é comum a gente ver notícias nos jornais sobre corrupção etc. É bem provável que parte destas notícias tenham se originado em denúncias anônimas. Mas, só Deus sabe quantas coisas são denunciadas e nunca chegam ao nosso conhecimento. Jornais são bacanas, mas estão longe de ser imparciais. A imprensa tem uma agenda a ser cumprida. Às vezes ela está alinhada com os interesses da população, às vezes não. Em outras palavras, imprensa imparcial não é exatamente um conceito no qual eu acredite. Mas, voltemos à questão da denúncia anônima.

Tem um monte de político corrupto por aí. Mas, eles não vivem sozinhos. Vivem na sociedade e convivem com outras pessoas que não são necessariamente corruptas. De fato, se pensarmos no próprio Congresso Nacional, por mais que aquele lugar seja um antro de parasitas, provavelmente nem todos os que estão ali têm má índole. Não falo pelos políticos em si, pois acho que estes não têm muito jeito, mas penso nas pessoas que trabalham lá. Talvez sejam funcionários de gabinetes, cozinheiros, porteiros, administradores, ascensoristas, enfim, inúmeras pessoas que trabalham com políticos, mas não são políticos e nem necessariamente corruptos. Ainda assim, estão suficientemente perto dos políticos para, eventualmente, saber de coisas que nós, aqui de longe, não sabemos.

Agora, imagine se essas pessoas resolvessem, voluntariamente, vigiar os salafrários e reportar o que andam fazendo. Bem, talvez eles até queiram fazer isso, mas, convenhamos, iriam reportar para quem? De que maneira? Com que perspectiva de ser escutado? Enfim, minha pergunta é: o que essas pessoas fariam se tivessem as ferramentas certas? O que elas fariam se denunciar anonimamente, para uma entidade relevante, fosse fácil, simples, rápido e efetivo?

O que os cidadãos comuns fariam se lhes fossem dadas as ferramentas certas para denunciar? Acredito que estamos caminhando para um mundo em que transparência será a norma. Isso me dá esperanças de que a política brasileira melhore com o tempo, por uma questão básica de transparência. E nós temos como ajudar a criar os mecanismos para isso acontecer. Nós, desenvolvedores, mais do que ninguém.

Há dois aspectos importantes na questão da denúncia: a ferramenta e a entidade para a qual denunciar. Para mim, esta entidade não pode ser a imprensa. Na minha opinião, o ideal seria algo inspirado no Wikipedia, que é consultado por todos, pode ser produzido por todos, mas tem a qualidade de suas informações sendo controlada por muitos.

O Wikipedia é, para mim, a prova concreta de que podemos melhorar as coisas introduzindo um ferramental adequado. O Wikipedia hoje concentra uma boa parcela de todo o conhecimento humano. Onde este conhecimento estava antes de ir parar no Wikipedia? Na cabeça de cada pessoa. No momento em que se criou a ferramenta certa, este conhecimento passou a aparecer nela também. É como se alguém tivesse criado uma esponja gigantesca que, de uma hora para a outras, absorvesse o saber de inúmeras pessoas.

Imagine se conseguíssemos fazer algo assim para a política. Seria um enorme repositório de informações produzidas por quem estivesse interessado em contribuir e acessada por todos, inclusive a impressa. E, neste aspecto, não poderíamos deixar de falar de feeds RSS.

Feeds RSS e comentários

Uma outra coisa legal do Github são os feeds, que nos permitem saber o que está acontecendo. Imagine se houvesse um feed, em um site, que nos permitisse saber tudo o que está sendo feito pela pessoa na qual votamos na última eleição. Ou seja, imagine que houvesse uma página voltada exclusivamente para este político e que fosse sendo atualizada freqüentemente. Cada atualização seria refletida nos feeds, o que seria ótimo para acompanhar. Mas, não é tudo. Suponha também que cada “notícia” nova pudesse receber comentários. Mas, não comentários como o que vemos no site do O Globo, por exemplo, onde o design é péssimo e nada convidativo. Suponha que tivéssemos um ótimo design, que fizesse as pessoas realmente contribuir de maneira útil, sobretudo cobrando explicações e/ou ações do político. Bem, posso estar enganado, mas acho que uma das pessoas que iria assinar o feed desta página seria o próprio político ou algum de seus assessores.

Há este conceito no mundo do desenvolvimento ágil que é essencial: feedback. Acho que os políticos precisam ter feedback claro e rápido sobre suas ações. Acho que eles ponderariam melhor sobre suas decisões, e respectivas falcatruas, se percebessem que seus atos são rapidamente refletidos em um canal público movimentado e de armazenamento permanente. Aliás, este é um mal da imprensa. A notícia que é bombástica hoje, amanhã já terá sido substituída pela próxima novidade. Mas, em um site, isso não tem que ser assim.

O conceito dos feeds poderia ser ótimo para acompanhar os políticos, mas também para monitorar projetos relevantes. Por exemplo, as pessoas querem saber a quantas anda a questão da expansão do Metrô e respectivas liberações de recursos? Ótimo. Por que não ter uma página sobre este projeto e um feed para os interessados monitorarem o que está acontecendo?

Bom, o post já está para lá de longo e naturalmente não há espaço aqui para expressar todas as idéias que poderíamos colocar em um site sobre política. Mas, em resumo, acho que a comunidade de desenvolvimento de software pode dar uma contribuição significativa para o futuro deste país se decidir voltar sua atenção para criar ferramentas que ajudem a expor o trabalho dos políticos, bem como as licitações, projetos governamentais e outros tópicos que, em última análise, afetam a todos nós.

Eu perdi a crença nos políticos desta nação há muito tempo, como provavelmente é o seu caso. Mas, por mais que não gostemos e não confiemos neles, a verdade é que somos afetados por eles. Acho que votar conscientemente é importante, mas não é suficiente. Até por que, votar em quem, se praticamente só tem pilantra? Acho que o problema não está no que acontece nas eleições, mas sim o que se passa nos quatro anos que separam uma eleição da outra. Se nós conseguirmos criar os mecanismos de fiscalização, através de uma plataforma de software, para que cada cidadão possa informar o que sabe e todas as pessoas possam consultar, e se conseguirmos fazer os políticos perceberem que estamos antentos a cada passo deles, talvez consigamos influenciar positivamente suas ações. Este não seria um projeto de curto prazo, bem como suas conseqüências não seriam sentidas da noite para o dia, mas aqueles que têm filhos talvez possam ajudar a construir um Brasil melhor para eles, se começarem, hoje, a fazer alguma coisa a respeito: escrever software!

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